A maior consciencialização para as questões ambientais por parte de cidadãos e estruturas governativas a que se junta a luta pelo fim da crueldade para com os animais e os efeitos benéficos que uma alimentação sem produtos de origem animal tem na nossa saúde, acabaram por dar um forte impulso à filosofia de vida vegana.
Isto é particularmente visível no domínio da alimentação, onde a adopção de uma dieta vegan, caracterizada pela ausência de qualquer alimento de origem animal (carnes, ovos, laticínios, etc.), tem ganho cada vez mais espaço à mesa das famílias que, não raras vezes, “converteram-se” na sua totalidade, crianças incluídas, à comida vegan.
Neste ponto, contudo, há uma pergunta que se levanta: será a dieta vegan suficientemente nutritiva para o crescimento adequado de uma criança?
A dieta vegan é adequada para as crianças?
Segundo a opinião da American Dietetic Association, da DGS e da Ordem dos Nutricionistas Portugueses, sim. De acordo com estes três organismos,
"as dietas vegetarianas bem planeadas são apropriadas para indivíduos durante todas as fases do ciclo de vida, incluindo gravidez, amamentação, infância e adolescência, e para atletas”.
Porém, quer se trate de uma criança vegana ou não, é importante ter em mente que nos primeiros 1000 dias de desenvolvimento infantil, período que compreende a vida intrauterina mais os dois primeiros anos de vida, uma boa dieta nutricional tem um papel fundamental no seu normal crescimento.
Como pode a criança vegan obter os nutrientes necessários ao seu desenvolvimento?
Voltando à dieta vegan e à pergunta se esta é indicada para crianças, é importante, antes de mais, perceber como obter os nutrientes que normalmente se encontram nos alimentos de origem animal e que faltam ou têm uma menor concentração nos vegetais e qual o impacto da sua carência no crescimento.
Este é o exemplo do ferro, micronutriente importante na função metabólica e cuja principal fonte é a carne vermelha (3 miligramas por 100 gramas de carne). Apesar de um vegano encontrar a mesma quantidade de ferro nos espinafres, a absorção do ferro de origem vegetal (a chamada biodisponibilidade) é mais baixa, o que significa que deverá ingerir uma quantidade muito maior de espinafre – ou qualquer outro vegetal – do que de carne para que a mesma quantidade de ferro seja absorvida.
O caso do ferro pode ser aplicado sem grandes variações ao zinco, magnésio e cálcio. Para qualquer um destes nutrientes, encontrados de forma abundante nos produtos de origem animal, existe uma alternativa vegetal (leguminosas e cereais no caso do zinco ou bebidas à base de amêndoa no caso do magnésio e do cálcio), mas que em nenhum caso apresenta a mesma quantidade destes nutrientes.
Analise-se ainda o caso da vitamina B12, uma vitamina encontrada em alimentos de origem animal, como carne, leite, queijo e ovos e que é essencial, entre outros, para a constrição do ADN, proteção e regeneração dos nervos e regeneração celular.
Apesar de esta vitamina poder ser detetada também em alguns alimentos de origem vegetal, nunca o será em quantidade suficiente para salvaguardar as necessidades nutricionais das crianças veganas.
Todos estes nutrientes são cruciais para os primeiros anos de vida e ainda que alguns deles possam ser obtidos em quantidade através de fontes vegetais, outros há em que é muito difícil atingir o teor adequado, como é o caso do ferro, ômega-3, vitamina B12 e vitamina D.
Como estas carências são um risco para o pleno desenvolvimento da criança, os nutricionistas aconselham as crianças que seguem uma dieta vegan a suplementarem a sua alimentação com a ingestão de alimentos fortificado.
Assim, o planeamento alimentar deve dar especial atenção à proteína, ácidos gordos essenciais, ferro, zinco, cálcio, iodo e vitaminas D e B12.
No caso especifico dos bebés em fase de amamentação, estes devem tomar suplementos de vitamina B12 e D e ter uma fonte segura de ferro (suplemento ou alimentos fortificados), em determinados períodos de tempo durante o seu primeiro ano de vida.
Já em crianças com mais de 12 meses, estas devem, através de suplementos ou alimentos fortificados, suplementar a vitamina B12 e D e ingerir bebidas ou iogurtes vegetais fortificados em cálcio para substituir o leite.
Conclusão
Uma criança vegan pode crescer e desenvolver-se, à semelhança de uma criança não vegan, de forma totalmente adequada, desde que, como vimos, as necessidades nutricionais sejam devidamente acondicionadas.
Para além da ingestão de suplementos que fortifiquem a sua alimentação e lhe disponibilizem nutrientes que, de outro modo, só conseguiriam obter por intermédio do consumo de carne, é aconselhável que as famílias vegan que pretendam estender esta dieta alimentar às suas crianças procurem aconselhamento de profissionais de saúde.
Em suma, tudo isto significa que os pais devem ser seletivos na escolha dos alimentos e se mantenham atentos, atenção e seletividade que também deve ser ponto de honra quando a família vai jantar a um restaurante vegan.
Se as suas crianças seguem uma dieta vegan e estão em idade escolar, pode consultar o manual “Alimentação vegetariana em idade escolar” da DGS aqui.