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Agosto 27, 2021

Veganismo e desporto: o que deve saber?

Veganismo e desporto: o que deve saber? - Organi Chiado
Sabia que Lewis Hamilton é vegan desde 2017? Sim, um dos maiores atletas do desporto mundial, sete vezes campeão mundial de Fórmula 1 com 99 vitórias e 101 pole positions no bolso, pratica uma dieta vegan. Conhecido ativista para além das suas extraordinárias qualidades como piloto, o caso de Hamilton é paradigmático da relação entre ser vegano ou vegetariano e desportista. Sobretudo, porque a Fórmula 1 é dos desportos mais fisicamente exigentes no panorama do desporto de elite.

No contexto nacional, por exemplo, o ex-jogador do Benfica, Gian-Luca Waldschmidt é vegetariano. Na temporada passada o futebolista alemão era um dos quatro jogadores vegetarianos da Liga portuguesa. Outro – Sebastian Perez, do Boavista - é vegano, segundo trabalho do Sapo Desporto sobre o vegetarianismo no futebol português. Isto num universo de 532 jogadores que atuaram na Liga portuguesa em 2020/201.

No mesmo artigo, Carlos Caetano, nutricionista do SL Benfica, revela - a propósito de Gian-Luca - os desafios de trabalhar com atletas vegetarianos. "Os principais cuidados a ter com um atleta que tem por base uma alimentação vegetariana estão relacionados com o aporte proteico, vitamínico e mineral da sua alimentação. Uma dieta vegetariana mal calculada, em que o atleta apenas se preocupe em substituir os alimentos de origem animal por alimentos de origem vegetal, pode acarretar vários défices nutricionais. Por isso é que, a meu ver, o acompanhamento nutricional destes atletas é fundamental. Devemos sempre assegurar que o atleta sabe quais as suas necessidades, e de que forma as pode suprimir com base em alimentos de origem vegetal (que quantidade de leguminosas deve conter o seu prato, que outras opções podem garantir um adequado aporte proteico naquela refeição, etc...)".

Dieta vegan

O primeiro desafio a quem procura saber como se tornar vegano é informar-se sobre o assunto. Um documento a consultar é o das “Linhas de Orientação para uma Alimentação Vegetariana Saudável”, do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável e da Direção-Geral da Saúde. O segundo é experimentar um restaurante vegan em Lisboa, ou um restaurante vegan onde quer que esteja, para se ir familiarizando com as delícias da comida vegana e desconstruir os mitos sobre os seus sabores. Há cada vez mais restaurantes vegan no nosso país, até porque há cada vez mais gente a optar por ser vegano ou vegetariano. De acordo com um estudo da consultora Nielsen em 2017, 1,2% dos portugueses não come carne ou peixe. 0.6% segue uma dieta vegan.

Comida Vegan e desporto

Segundo a Associação Vegetariana Portuguesa, há cinco dicas importantes que se devem partilhar sobre alimentação do tipo vegetariano e desporto. Como já vimos, é preciso “garantir o aporte energético adequado às necessidades/objetivo do atleta”, tendo em conta “o seu nível de atividade física, a composição corporal e o tipo de exercício praticado, de modo a garantir a satisfação as suas necessidades especifico-individuais.” A AVP aconselha a aumentar a “frequência das refeições e o consumo de alimentos com maior densidade energética, tal como, frutos oleaginosos e sementes.”

De acordo com a mesma Associação, no atleta a proteína necessária normal varia entre 1,2 a 2,0 g/kg de peso corporal/dia, sendo que noutras situações (como perda de massa corporal) pode ser maior. Assim, deve-se prestar atenção à qualidade e quantidade da proteína a consumir. Neste caso, destaca-se a leucina, particularmente relevante na relação com o exercício. Lentilhas e grãos de soja são excelentes fontes de leucina. Do mesmo grupo de BCAAs (aminoácidos de cadeia ramificada) onde se insere a leucina, constam isoleucina e valina, que podem ser encontradas em sementes, frutos oleaginosos e leguminosas. Em resumo, isto significa que é importante ter uma alimentação variada, que use alimentos de vários grupos - leguminosas, cereais integrais, frutos oleaginosos - para assegurar o consumo dos diferentes aminoácidos necessários.

Na mesma linha, deve-se ingerir, de forma variada, cereais integrais, frutas e hortícolas. O arroz e massa podem também ser importantes para fornecer hidratos de carbono. Quanto aos nutrientes, são fundamentais. É importante o consumo de Ómega-3, B12, Cálcio, Ferro, Zinco, Iodo e Vitamina D. Aliás, para dar atenção a estes nutrientes não precisa de ser um desportista vegetariano – qualquer vegano ou vegetariano deve ter atenção aos mesmos.

Assim, é perfeitamente possível combinar ser um desportista, amador ou profissional, com ser vegano ou vegetariano. Neste caso, como em qualquer processo de como se tornar vegano e a consequente mudança, informação é a chave. Informe-se e mude. Viva melhor. Pelo mundo, pelos animais. Por si.